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quinta-feira, 1 de setembro de 2016

A incrível historia do estelionatário John Fox que passou 20 anos enganando milionários com a venda de vinhos que não entregava


Por Rogerio Ruschel (*)

O comerciante John Fox passou os últimos 20 anos criando um império baseado na venda de vinhos raros para milionários – e não os entregando. É isso mesmo, meu caro leitor ou leitora, você leu certo: 20 anos enganando os clientes! O salafrário está no centro da foto, acima, cortando a fita inaugural de sua loja nova em Berkeley, em 2011. Ele usava o chamado “Esquema de Ponzi”, um sistema baseado na venda de produtos que só são entregues em casos de muita reclamação e risco para o fraudador. John Fox (impossível eu não apelidá-lo de João, a Raposa!) vendia vinhos europeus raros para magnatas, empresários, artistas e banqueiros que não se importam de investir (e perder) centenas de milhares de dólares em garrafas de vinhos com pedigree. Quando se davam conta da enganação, a grande maioria destes clientes não reclamava para que ninguém soubesse que tinham sido enganados. Em poucas oportunidades seus clientes entraram na justiça, então Fox entregava os vinhos culpando a logística e ainda usava estas entregas para fazer marketing, fotografando e divulgando. Pode? Pode.

A história parece um filme e o personagem é muito interessante. Fox fundou a Premier Cru em 1980 a partir de uma pequena loja que abriu com seu amigo Hector Ortega, com quem tinha trabalhado para o Serviço Postal dos Estados Unidos. Durante os anos 80 e 90, as suas práticas foram inteiramente legais e ele consolidou uma reputação que lhe permitiu começar a agir de maneira ilegal. Em sua nova loja em Berkely, Califórnia (veja fotos nesta matéria) ele atendia clientes, mas era passatempo – ou disfarce. Só fazia negócios pela internet, enviando por e-mail um catálogo fictício de raridades vinícolas para dezenas de pessoas do tal jet-set internacional que ele sabia que sofriam de soberba e vaidade. Sua fraude dava certo porque neste mercado pouco regulamentado, ninguém sabe ao certo quanto vale um garrafa de tal marca e de tal safra, milionários não gostam de confessar que foram enganados (porque geralmente eles é que enganam as pessoas) e além disso, muitos clientes preferiam não ter que explicar de onde vinha o dinheiro para comprar tal raridade...

Poucos sabiam quem era o proprietário da Premier Cru, um dos principais importadores de vinhos europeus dos Estados Unidos, que inaugurou uma loja novíssima em Berkeley, Califórnia, em 2011. John Fox, a Raposa, saía muito pouco, não participava de feiras, eventos e congressos do setor vinícola e sempre teve uma vida bastante reclusa. Quem trabalhava com ele, dizia que ele era assim, discreto, ou talvez doente por causa da idade – atualmente está com 66 anos. Seus ex-funcionários disseram para a policia que ele trabalhava 12 horas por dia, seis dias por semana – um grande dedicado. A única vez que tirou férias teve que interrompê-las porque o Wi-Fi do hotel não estava funcionando e ele voltou para a empresa muito irritado. Os ex-funcionários disseram também que apesar do anonimato, John Fox gostava de carros de luxo, golfe e de contatos com mulheres em sites de namoro online, que ele escondia de sua esposa Gail.

Mas o que se sabe agora é que ele escondia muito mais segredos do que contatos sigilosos com moças voluntariosas pela internet: sua empresa era a maior farsa do negócio de importação de vinhos nos Estados Unidos e uma das maiores do mundo. Pelo que se sabe até agora por mais de 20 anos Fox conseguiu enganar centenas de clientes de 45 estados norte-americanos e de 18 países. Teria movimentando cerca de 70 milhões de dólares e já foi responsabilizado por fraudes no valor de 45 milhões de dólares. São cerca de 150 milhões de Reais, meu amigo ou amiga!

A farsa acabou no final de 2015 quando alguém finalmente reclamou e tinha provas. Em 2014 e 2015 vários clientes reclamaram, mas não acontecia nada por falta de provas - os clientes enganados não queriam se apresentar. Mas então o economista Lawrence Hui Wai-Man, um colecionador de vinhos de Hong Kong, encomendou 1.591 garrafas de vinhos por 981 mil dólares entre 2012 e 2014 e ficou esperando a entrega por mais de um ano quando não aguentou e deu queixa à policia, que o prendeu e entregou documentos comprovando o pagamento, o que permitiu que finalmente Fox fosse processado. Agora em agosto de 2016 John Fox, a Raposa, foi finalmente condenado a 20 anos de prisão, além de ter de devolver o dinheiro roubado. Na foto acima o salafrário está com a mão erguida, jurando dizer a verdade, só a verdade para promotores - meigo, não?
 Não vou dar o site da empresa dele para proteger você de uma compra enganosa, ok?
(*) Rogerio Ruschel é editor de In Vino Viajas e nunca comprou uma garrafa de vinho do John Fox – eu sabia que ser pobre um dia trataria alguma vantagem…




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